Criados pelo Google em 2018, os Web Stories permitem que veículos de imprensa publiquem conteúdo jornalístico no formato “stories”, popular nas redes sociais. Grandes redações já têm contado histórias de impacto com essa ferramenta, mas o funcionamento dela ainda não é familiar para muitos profissionais.
A jornalista Fernanda Nascimento, editora de conteúdo e estratégias digitais da editora Trip, é pioneira no uso das Web Stories no trabalho de sua equipe. Entre os dias 20 e 22 de setembro de 2021, ela compartilhou sua experiência e ensinou os princípios da ferramenta com jornalistas de 41 organizações de imprensa do Brasil na oficina 'Como fazer jornalismo por meio de Web Stories?'.
Em parceria com o Google News Initiative, a oficina apresentou o recurso a esses profissionais para que cada um pudesse adaptá-lo à estratégia digital de suas organizações. O objetivo, disse Fernanda, foi mostrar o que tem sido feito e como as pessoas estão fazendo Web Stories para que cada veículo aproveite o formato da melhor maneira possível, dentro das suas possibilidades e recursos.
As Web Stories são um recurso novo e despertaram diversas dúvidas entre os jornalistas inscritos. Os profissionais perguntaram desde questões técnicas –como incorporar uma história nesse recurso em seu próprio site ou como funciona a aferição de audiência– até perguntas sobre a rotina de trabalho e organização da equipe de Fernanda Nascimento na Trip.
A editora mostrou como as Web Stories permitem às redações publicar histórias que geram engajamento, podem conquistar uma nova audiência para o veículo e são uma alternativa barata de produzir conteúdo audiovisual relevante. Para Fernanda Nascimento, a ferramenta permite que as redações entreguem jornalismo para quem não tem disposição de ler grandes conteúdos e prefere se informar de uma maneira rápida.
O que são as Web Stories e por que incluir o formato na estratégia digital?
O Google Web Stories é pensado para quem consome informações pelo celular. O formato segue a lógica de uma sequência de telas sobre um mesmo assunto - o leitor navega entre elas com um toque dos dedos, movendo-as para o lado. “A maioria dos usuários prefere interagir com conteúdo fazendo o movimento de tocar para a frente, como os ‘stories’, em vez de rolar a tela”, disse Fernanda Nascimento.
A palestrante baseou sua fala em dados da edição de 2021 do relatório Reuters Digital News Report, elaborado pela agência de notícias Reuters com a Universidade de Oxford, na Inglaterra. A pesquisa analisou o consumo de notícias em 2020 e mostrou que 77% dos brasileiros usam o celular para consumir notícias; 64% dos usuários preferem interagir com um conteúdo fazendo o movimento de tocar na tela ao invés de rolar para baixo; e 58% das interações em 2020 foram geradas por publicações que contém vídeos verticais.
“As Web Stories atingem uma audiência que não vai consumir esse conteúdo de outra maneira. E, ao contrário do Instagram, não são publicações efêmeras, são como qualquer outra matéria e vão ficar online enquanto você determinar que elas fiquem e são de propriedade do veículo, ficam hospedadas em sua plataforma e podem ser monetizadas da maneira que cada um desejar. Ao mesmo tempo, são indexáveis– aparecem nas buscas orgânicas e são impulsionadas pelo Google”, disse Fernanda Nascimento.
A editora comentou que, atualmente, as Web Stories são parte importante da audiência da revista Trip. “Foram uma maneira providencial que a Trip e a Tpm encontraram para chegar a outras pessoas que não iriam ler grandes conteúdos. A capacidade de atenção das novas gerações diminuiu exponencialmente - dizem que a atenção de alguém da geração Z é de 8 segundos”, afirmou.
Adaptar o que antes era publicado em um texto longo para uma sequência de telas é um processo difícil e que precisa respeitar as particularidades de cada veículo, em um ambiente em que há uma infinidade de informações, jornalísticas e não jornalísticas. “A gente não quer emburrecer o conteúdo para conquistar audiência - não ser superficial nem perder a identidade para conquistar a audiência”, pontuou Fernanda.
Veículos de pequeno e médio porte podem se beneficiar da distribuição das Web Stories pelo próprio Google, em resultados de pesquisas ou na ferramenta “Discover”. Essa possibilidade faz diferença para organizações de pequeno e médio porte que não estão vinculadas a grandes portais, por exemplo.
Em 2020, o Google incluiu as Web Stories no “Discover”, um recurso no sistema de busca que oferece sugestões de leitura a partir das pesquisas de um usuário. No caso da Trip, Fernanda Nascimento contou que essa mudança deu visibilidade ao conteúdo da revista para novos leitores, embora ainda seja uma audiência relacionada aos termos e assuntos das buscas no Google.
Outra vantagem é que a ferramenta não possui restrições editoriais: valem as políticas e regras de cada veículo. “Você pode linkar à vontade e chamar para conteúdos mais aprofundados, para se inscrever em newsletter, para onde quiser”, afirmou a palestrante.
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O custo de produção de uma Web Stories é menor do que o de um vídeo - ela pode ser feita com os recursos e a equipe da própria redação.
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Atraem a atenção de uma audiência com outro comportamento de consumo.
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Não são efêmeras e ficam online pelo tempo que cada veículo determinar.
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São totalmente de propriedade de cada organização de imprensa -- ficam hospedadas em sua própria plataforma e podem ser monetizadas
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São indexáveis, aparecem nas buscas orgânicas e são impulsionadas pelo Google.
Como fazer Web Stories
As condições técnicas no publicador de cada veículo devem ser preparadas pelo time de desenvolvedores - os aspectos tecnológicos não foram abordados na oficina com Fernanda Nascimento, mas em outros encontros específicos.
A jornalista recomendou editores com versões gratuitas na internet, como o Make Stories e o Newsroom AI. Quem trabalha com o Word Press também tem à disposição uma extensão para criar as Web Stories diretamente no publicador.
Fernanda Nascimento contou que, no caso da Trip, os jornalistas trabalham em cooperação com designers na produção das Web Stories - fundamentalmente, essas são histórias visuais, que propõem uma experiência imersiva aos leitores.
A ideia é que seja uma experiência imersiva e vertical como o celular, pensada para que o leitor navegue por uma história com começo, meio e fim, passando cada tela para o lado com o dedo. “São conteúdos pensados e desenhados para celular, que usam recursos audiovisuais para engajar as pessoas o máximo possível”, explica a editora.
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O leitor navega por telas. Portanto, cada história precisa ter uma boa representação visual em cada uma dessas telas. Fotos, ilustrações, trechos de vídeos, gifs - qualquer recurso que consiga traduzir a informação em imagens. Segundo Fernanda Nascimento, o Google recomenda o uso de vídeos sempre que possível nas Web Stories, pois são o recurso que mais engaja o leitor.
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As histórias precisam ser concisas e completas, com começo, meio e fim. Grandes blocos de texto afastam o usuário - a editora recomenda entre 200 e 280 caracteres em cada tela.
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O ideal é que cada Web Stories tenha até 20 telas e nunca passe de 30. Fernanda Nascimento disse que, segundo o Google, os usuários navegam, em média, de 11 a 15 telas.
Toda pauta pode ser contada no formato Web Stories, desde que tenha uma preocupação visual. Se não há recursos imediatamente disponíveis - como boas fotos e vídeos - a solução pode demorar mais e exigir a produção de ilustrações ou gráficos para o formato.
Listas, guias, perfis e pautas do tipo “como fazer” costumam atrair o interesse da audiência. Segundo Fernanda Nascimento, o Google recomenda que as Web Stories sejam atemporais e não se vinculem com as notícias quentes do dia. A ideia é que seja um conteúdo feito para durar. A orientação não impede que uma redação aproveite um assunto do momento para produzir uma história nesse formato. “Existem olhares um pouco mais frios para coisas quentes”, disse Fernanda Nascimento.
Essa perspectiva, diz Fernanda, pode ajudar a dar nova vida a conteúdos antigos de um veículo. “Por que não pegar um conteúdo e reeditar, pensar de novo para o Web Stories quando o assunto está quente?”, questiona a editora.
Formatos que funcionam:
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Perfis: personagens que já produzem conteúdo audiovisual em suas redes sociais são mais fáceis de ilustrar.
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Reportagem: Assuntos quentes têm mais chances de um bom desempenho de audiência.
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Depoimentos: Histórias contadas em primeira pessoa engajam mais os leitores
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Conteúdo do tipo “como fazer”, “por quê?” ou “o que”: Atemporais, esse tipo de material é sempre buscado e funciona bem.
A palestrante comentou que o Google diz que Web Stories em primeira ou terceira pessoa fazem sucesso - então, por que não transformar um texto de um colunista escrito em primeira pessoa em uma Web Stories?
Passo a passo
O planejamento de uma Web Stories é fundamental e começa antes mesmo da definição da pauta. Na equipe da Trip, comandada por Fernanda Nascimento, jornalistas sempre trabalham em dupla com designers.
Caso a pauta não seja inédita, mas um conteúdo já publicado anteriormente pelo veículo, a editora ressalta que é preciso considerar, antes, se o tema “envelheceu bem”. A reedição é uma boa forma para começar a experimentar as Web Stories e serve para redistribuir e impactar mais gente com matérias antigas esquecidas na internet. Uma dica: ajuda muito mapear anteriormente o conteúdo do site, para conseguir aproveitar os assuntos na hora certa.
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Depois de desenvolver a pauta, o primeiro passo é montar um “storyboard”. As Web Stories precisam ser pensadas tela a tela, e cada uma delas precisa tratar de uma ideia diferente. O texto precisa ser pensado tela a tela, quase como um roteiro, e não apenas ser picotado do original. Lembrando que, idealmente, uma história precisa ser contada em até 20 telas -- o assunto escolhido sustenta esse tamanho?
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A primeira tela precisa ser a mais atraente, pois é ela que vai impactar a audiência no Google Discover. Título e olho também precisam chamar a atenção.
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Evite fotos ou imagens repetitivas; isso cansa o leitor.
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Não demore muitas telas até que o leitor entenda sobre o que é sua história, pois são grandes as chances de ele abandonar a Web Stories.
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Depois do planejamento de todas as telas, chega a etapa de preparar todo o material audiovisual. As fotos precisam estar no formato certo (9:16) e recomenda-se que vídeos tenham de 2 a 5 MB por tela.
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Inserir enquetes ou perguntas nas histórias ajudam a engajar e a conhecer melhor a audiência.
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Ter imagens exclusivas é sempre bom, mas também há bancos gratuitos disponíveis na internet, como Unsplash, Pexels. Prefira imagens estouradas como plano de fundo. Fotos horizontais nem sempre funcionam bem na Web Story, mas recursos de animação podem solucionar este problema
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A última tela do Web Stories pode - e deve - convidar o leitor para explorar outros conteúdos do site de um veículo. Vale linkar conteúdos mais aprofundados ou direcioná-lo para a inscrição em uma newsletter, por exemplo.
Bons exemplos e aprendizado
As ferramentas e programas de edição para Web Stories mudam constantemente e é importante que a equipe que trabalha com esse recurso se mantenha constantemente atualizada. Fernanda Nascimento recomendou uma série do YouTube, “Story Time”, e os próprios materiais didáticos dos editores visuais - o Make Stories, por exemplo, oferece tutoriais no Make Stories University.
Também é fundamental acompanhar o trabalho de colegas. A editora da Trip listou alguns exemplos inspiradores:
Sobre Fernanda Nascimento
Sobre a oficina
Realizada em cinco encontros virtuais, a oficina “Como fazer jornalismo por meio de Web Stories?”, organizada pela Fundación Gabo em parceria com o Google News Initiative, reúne jornalistas de 41 veículos de comunicação do Brasil. Sob a orientação de Fernanda Nascimento, editora de conteúdo e estratégias digitais da revista Trip, esses profissionais estão explorando como aproveitar as possibilidades das Web Stories no jornalismo