Diario brasileño encuentra novedosa manera de conectarse con sus lectores

Diario brasileño encuentra novedosa manera de conectarse con sus lectores

Se trata de O Povo, diario regional de la ciudad de Fortaleza, que experimentó con éxito al crear los Consejos Consultivos de Lectores.
La joven y laboriosa redacción de O Povo.
Red Ética

(Versão em português no final)

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Fundado en 1928, el diario más tradicional de la región de Ceará, al nororiente de Brasil acaba de cumplir 90 años de existencia ininterrumpida. Creado por Demócrito Rocha, O Povo es uno de los pocos que sobrevive como empresa familiar hasta el día de hoy. Su actual presidenta es la periodista Luciana Dummar, bisnieta del creador.

Desde el principio, el diario ha tenido un fuerte lazo con la comunidad. Incluso su nombre fue elegido por sus propios lectores. En esta época, Demócrito Rocha era redactor de “O Ceará”, y le confesó a su amigo Júlio Ibiapina, propietario del rotativo, que tenía ganas de crear su próprio diario. Ibiapina le incentivó y Demócrito divulgó en el mismo “O Ceará” su pretensión de crear su propia publicación, pidiendo que los lectores sugirieran cómo llamarlo. Entre las centenas de cartas que recibió, eligió el nombre “O Povo” (El Pueblo), que tenía que ver con su postura crítica a la República Vieja, un sistema político anticuado que se desarrollaba en Brasil en este tiempo.

Actualmente, O Povo es uno de los pocos diarios regionales brasileños que no están vinculados a ningún grupo político y que también, desde la década de los 80, prohíbe los integrantes de la familia propietaria que trabajan en el diario que se involucren en política partidista. El diario tiene el reconocimiento nacional de sus pares, fue uno de los creadores de la Associação Nacional dos Jornais (Asociación Nacional de Periódicos, ANJ por sus siglas en portugués), y hasta hoy tiene una de sus vicepresidencias.

Durante una reciente visita de Ricardo Corredor, director ejecutivo de la FNPI a la ciudad de Fortaleza, nos enteramos de la existencia de los Consejos Consultivos de Lectores de O Povo. Se trata de una de las cinco iniciativas a través de las cuales el diario ha innovado para mantener una conexión cercana y dinámica con su audiencia.

Para entender mejor cómo funcionan estos Consejos Consultivos y otras claves que ayudan a O Povo a ser un diario sostenible y arraigado en su comunidad, entrevistamos a Plínio Bortolotti, director institucional del periódico, quien comparte generosamente aquí sus experiencias.

"Internet y las redes sociales, en las cuales se ponía la esperanza del diálogo, se transformaron en cacofonía y ruído. Obviamente no podemos dejar a un lado estas herramientas, pero la interacción humana todavía es el mejor modo de hablar con el lector", afirma Bortolotti en la entrevista concedida a Hernán Restrepo, gestor de contenidos de la Red Ética. 

 

O Povo tiene 14 premios Exxon Mobil (Esso), que fue el más importante premio de periodismo en Brasil, con ocho en la categoría Regional, uno en la categoría Nacional de Información Tecnológica, Científica y Ecológica, y cinco en la categoría Creación Gráfica Nacional. Además de decenas de otras premiaciones de destaque regional, nacional e internacional, como el Premio Ayrton Senna de Periodismo (derecho de los niños y adolescentes), Premio Internacional de la Sociedad Americana de Prensa, Premio Vladmir Herzog de Derechos Humanos, además de tener cuatro de sus profesionales nombrados “Periodista amigo de los niños” por Andi (Associação Nacional dos Direitos da Infância).

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Versão em português

Comece nos contando um pouco sobre a história do O POVO.

O jornal O POVO completou, em janeiro deste ano (2018), 90 anos de circulação ininterrupta. O periódico foi fundado por Demócrito Rocha, e permanece propriedade da família até os dias de hoje, sendo atual presidente a jornalista Luciana Dummar, bisneta do fundador. Desde o princípio, o jornal tem forte vínculo com a comunidade, tendo sido nome do jornal escolhido pelos seus futuros leitores. Na época, Demócrito Rocha era redator de “O Ceará”, e disse a Júlio Ibiapina, proprietário do periódico, de quem era amigo, que pretendia fundar seu próprio jornal. Ibiapina o incentivo e Demócrito divulgou no próprio “O Ceará” a sua pretensão de fundar um novo jornal, pedindo que os leitores lhe sugerisse um nome. Entre as centenas de cartas que recebeu, optou pelo nome “O POVO”, que combinava com a sua postura crítica à República Velha, um sistema político antiquado e carcomido que vigia no Brasil à época.

O POVO é um dos poucos jornais regionais brasileiros que não está vinculado a nenhum grupo político e também, desde a década de 1980, proíbe os integrantes da família proprietária, que trabalham no jornal, de se envolverem com política partidária. O jornal tem o reconhecimento nacional de seus pares, foi um dos fundadores da Associação Nacional dos Jornais (ANJ), e até hoje ocupa uma das vice-presidências.

O jornal tem 14 prêmios Exxon Mobil (Esso), que foi o mais importante prêmio de jornalismo no Brasil, sendo oito na categoria Regional, um na categoria Nacional de Informação Tecnológica, Científica e Ecológica e cinco na categoria Criação Gráfica Nacional. Além de dezenas de outros prêmios de destaque regionais, nacionais e internacionais, como o  Prêmio Ayrton Senna de Jornalismo (direito das crianças e adolescentes), Prêmio Internacional da Sociedade Americana de Imprensa, Prêmio Valdimir Herzog de Direitos Humanos, além de ter quatro de suas profissionais nomeadas “Jornalista Amiga da Criança” pela Andi (Associação Nacional dos Direitos da Infância).

Como vocês foram afetados pela internet e pelas novas tecnologias?

Como todos os jornais O POVO foi impactado pelas novas tecnologias. No entanto, pela sua característica, o jornal nunca encarou a internet como “inimiga”, mas como mais uma possibilidade de chegar ao leitor. Tivemos rapidamente a compreensão de que somos bons produtores de conteúdo, que poderia estar disponível em qualquer plataforma com a mesma qualidade do jornalismo que produzimos, porém isso não nos fez desconsiderar a importância do jornal impresso. Agimos assim desde o princípio, e hoje temos uma redação integrada apta a produzir para o meio impresso e eletrônico.

Atualmente, a tiragem física do jornal é de 19.600 exemplares. No entanto, temos um alcance na rede mundial de computadores muito expressivo para um jornal regional. Nossa página na internet tem tem 4,41 milhões de visitantes únicos e 17,211 milhões visualizações de página por mês (dados de junho/2018).

Como funcionam os conselhos de leitores e como vocês tiveram a ideia de criá-los?

Na década de 1990 uma jornalista do O POVO visitou jornais regionais americanos e observou que alguns deles, eventualmente, consultavam os leitores sobre algumas questões relativas à comunidade, mas de modo informal. A partir dessa experiência, o jornal resolveu implementar, formalmente, um Conselho Consultivo de Leitores, uma ação pioneira no Brasil.

O Conselho tem mandato de um ano, sendo que o primeiro grupo assumiu em 1998. São 15 conselheiros, renovados a cada ano, indicados diretamente pela Redação do jornal, e depois votados pelos editores, pois a quantidade de nomes sugeridos é sempre maior do que o número de vagas. Busca-se sempre formar um grupo equilibrado, com representantes de empresários, trabalhadores, estudantes, professores e profissionais liberais.

O Conselho de Leitores reúne-se mensalmente para analisar o conteúdo editorial e também as publicações online, e seu aspecto gráfico e visual. Os conselheiros podem fazer comentários, criticar, opinar e  sugerir pautas. O Conselho não tem função executiva, mas os editores tomam conhecimento de tudo o que é debatido, pois além da participação, e recebem o relatório de cada encontro. O colegiado tem, portanto, a oportunidade de manter intercâmbio direto com a Redação do jornal. Entre uma reunião e outra, os conselheiros podem enviar suas críticas, perguntas e comentários por meio de uma lista, via e-mail, que circula entre os conselheiros e os jornalistas, incluindo o ombudsman.

Algumas editorias do jornal também costumam fazer consultas eventuais grupos específicos leitores ou especialistas. De forma mais orgânica, existe, desde 2017, o Conselho do Vida & Arte, caderno de cultura e entretenimento. São também 15 representantes das diversas linguagens artísticas, produtores e proprietários de espaços culturais, convidados a conversar com os jornalistas, pelo menos duas vezes por ano.

Os conselhos de leitores substituem com o defensor do leitor, também conhecido como ombudsman?

O POVO mantém o cargo de ombudsman desde 1993, sendo o segundo jornal brasileiro a adotar a função, depois da Folha de S. Paulo. Por um curto período, vários jornais instituíram a figura do ombudsman, porém desistiriam. Atualmente, apenas O POVO e a Folha mantêm a função.  Conselho e Ombudsman tem funções diferentes e um não substitui o outro, são dois modos diferentes e complementares de controle e participação.

As estações de rádio de vocês também contam com conselhos de ouvintes? Quais são as diferenaçs com os conselhos de leitores do diário?

Este ano (2018) a rádio de notícias do grupo, O POVO/CBN, iniciou a experiência com o seu Conselho Consultivo de Leitores, que segue os mesmo moldes do Conselho do jornal, com mandato de um ano. É composto por oito integrantes de diversos segmentos da sociedade, escolhidos pelos funcionários da rádio, entre os ouvintes mais assíduos e participativos da programação. O seu objetivo é analisar o conteúdo editorial da rádio e sua a programação.

O POVO é um exemplo de um meio regional que conseguir ficar perto das necessidades de seus leitores. Qual as chaves para essa aproximação, para sentir a pulsação local?

O POVO, desde a sua fundação, mantém um elo bastante forte com a comunidade, produzindo um jornalismo plural e comprometido com a verdade; é um jornal com raízes cearenses, porém aberto ao mundo. O jornal publica os mais diversos pontos de vista, em sua seção de artigos, independentemente da posição em que se encontra o articulista no arco ideológico.

De que forma os conselhos de leitores mudaram a foram como funciona O Povo?

O Conselho de Leitores é bastante respeitado pela Redação, não tendo função executiva. Os jornalistas sempre respondem aos questionamento, presencialmente ou interagindo na lista interna de e-mail dos conselheiros. Quando o Conselho pede para discutir temas relativos a uma editoria específica, o editor fica com a obrigação de comparecer à reunião. Várias correções de rota ou sugestões de pauta partiram do Conselho de Leitores.

Que conselho final você daria aos meios latinoamericanos que sentem que estão se desconectando dos tema que realmente preocupam as suas audiências?

Creio que é preciso aprender a se comunicar com o público de forma mais próxima. A Internet e as redes sociais, nas quais se depositava a esperança de diálogo, transformaram-se em cacofonia e barulho ensurdecedor. Claro que não se pode mais abrir mão dessas ferramentas, mas a interação humana ainda é o modo mais acertado de se falar com o leitor. O Conselho de Leitores e o ombudsman são instrumentos que apontam para essa direção.

Outros instrumentos de controle e de proximidade com o leitor.

1. Além do Conselho de Leitores, o jornal mantém ainda o Conselho Editorial, um grupo de 18 pessoas, destacadas em sua área de atuação, escolhidos diretamente pela Presidência do Grupo de Comunicação O POVO. Diferentemente do Conselho de Leitores, que tem como papel principal fazer a crítica dos aspectos cotidianos do jornal, o Conselho Editorial é uma espécie de guardião de sua linha de atuação, tendo como base a Carta de Princípios do O POVO.

2. A editoria de Opinião do jornal é aberta ao recebimento de artigos para publicação, tendo como critério de seleção apenas a pertinência do assunto e  a qualidade do texto. Assim, qualquer pessoa que enviar um artigo terá a oportunidade de vê-lo publicado, independentemente de sua posição ideológica, satisfeitos os critérios da editoria.

3. O jornal mantém uma página semanal, o “Jornal do Leitor”, destinado exclusivamente a textos de leitores, com critérios mais livres, pode-se publicar uma poesia, uma homenagem e outros escritos mais “leves”.

4. O POVO Educação é um projeto associado ao Programa de Jornal e Educação (PJE) da Associação Nacional de Jornais (ANJ), reunindo professores e alunos.  A cada ano são selecionados 110 “Correspondentes Escolares”, de escolas públicas e privadas que, junto com os professores, participam de diversas atividades no jornal, incluindo oficinas de leitura crítica e aprimoramento da expressão oral e escrita, entre outras. Os correspondentes mantêm uma coluna fixa no “Jornal do Leitor”, na qual divulgam notícias de suas escolas e também produzindo também publicações próprias.

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