A grande maioria dos brasileiros (83%) lê notícias pela internet e a as redes sociais, pelo segundo ano consecutivo, ultrapassaram a televisão como principais fontes de informação no país – além disso, 77% consomem esses conetúdos pelo celular. As conclusões são da edição de 2021 do relatório Reuters Digital News Report, elaborado pela Reuters em parceria com a Universidade de Oxford, e confirmam a necessidade de que as redações passem a desenvolver produtos jornalísticos pensando nos dispositivos móveis de seus leitores.
“A maioria dos usuários prefere interagir com conteúdo fazendo o movimento de tocar para a frente, como os ‘stories’, em vez de rolar a tela”, diz Fernanda Nascimento, editora de conteúdo e estatégias digitais na editora Trip.
Na oficina 'Como fazer jornalismo por meio de Web Stories?', Fernanda Nascimento compartilhou seus principais aprendizados e as melhores práticas para jornalistas nos Web Stories.
Fernanda tem explorado em seu trabalho a ferramenta Google Web Stories, que adapta o formato “stories”, das redes sociais, para os sites jornalísticos.
“São uma forma de fazer conteúdo relevante e uma maneira de contar histórias. Por isso, servem sim ao jornalismo, mas precisa ser uma história em um formato mais conciso”, comenta a editora. A ferramenta permite que as redações entreguem jornalismo para quem tem não tem disposição a ler grandes conteúdos e quer se informar de uma maneira rápida.
1. Visibilidade e baixo custo são vantagens da ferramenta
Segundo Fernanda Nascimento, as Web Stories são parte de uma iniciativa do Google de pensar conteúdo especificamente para o celular, com carregamento mais rápido nesses dispositivos.
Os Web Stories foram criados em 2018 e, em 2020, a empresa os incluiu no Google Discover, um recurso no sistema de busca que oferece sugestões de leitura a partir das pesquisas de um usuário. A mudança deu visibilidade ao conteúdo da Trip para novos leitores, no entanto, ainda é uma audiência relacionada aos termos e assuntos das buscas no Google.
Essa nova possibilidade de distribuição é uma grande vantagem da ferramenta, principalmente para os veículos menores. Como os Web Stories são publicados no domínio próprio de cada publicação, a audiência é contabilizada para cada site, que também tem autonomia para linkar conteúdos e monetizar sua produção. Além disso, o custo de produção é baixo, comparado a um vídeo ou a outros formatos audiovisuais mais complexos.
“Cada veículo tem suas particularidades, mas todos que estão na internet sofrem para se manter relevantes no meio de tantos outros produtores de conteúdo, jornalísticos e não jornalisticos”, afirma a editora.
2. Concisão e impacto visual
Fernanda Nascimento defende que os Web Stories são concisos, mas nem por isso menos interessantes. O jornalista tem à disposição uma série de recursos, dos mais tradicionais - como fotos e vídeos - até os que promovem interações com os leitores, como enquetes e caixas de perguntas.
A ideia é que seja uma experiência imersiva e vertical como o celular, pensada para que o leitor navegue por uma história com começo, meio e fim, passando cada tela para o lado com o dedo. “São conteúdos pensados e desenhados para celular, que usam recursos audiovisuais para engajsr as pessoas o máximo possível”, explica a editora.
Daí a importância da imagem em cada tela -- valem fotos, ilustrações, gifs e trechos de vídeos que consigam traduzir a pauta visualmente. Segundo Fernanda, o Google recomenda o uso de vídoes sempre que possível nos Web Stories, pois são o recurso que mais engaja o leitor.
Listas, guias, perfis e pautas do tipo “como fazer” costumam atrair o interesse da audiência. No entanto, qualquer história pode ser adaptada ao formato, desde que tenha uma boa tradução visual.
Segundo Fernanda, idealmente cada história pode ter até 20 telas e nunca mais do que 30. Em cada uma delas, o texto deve ser enxuto - entre 200 a 280 caracteres, no máximo.
3. Aposte em conteúdos atemporais
Essa é uma recomendação do Google, que orienta os veículos a evitar produzir Web Stories para as notícias do dia e criar conteúdos para durar.
Essa orientação, porém, não impede que uma redação aproveite um assunto do momento para produzir uma história nesse formato. “Existem olhares um pouco mais frios para coisas quentes”, diz Fernanda Nascimento.
Por exemplo: se o tema“impeachment” está em alta, a editora sugere que vale a pena pensar em produzir uma história listando quais são os recursos jurídicos no Brasil que compõem o impeachment ou relembrando os casos de presidentes que passaram por esse processo.
Essa perspectiva, diz Fernanda, pode ajudar a dar nova vida a conteúdos antigos de um veículo. “Por que não pegar um conteúdo e reeditar, pensar de novo para o Web Stories quando o assunto está quente?”, ela indaga.
Sobre Fernanda Nascimento
Fernanda Nascimento é jornalista e editora de conteúdo e estratégias digitais da editora Trip. Ela já foi repórter, produtora e editora em diversos veículos e editou o relatório da Comissão da Memória e Verdade da Prefeitura de São Paulo, que investigou violações aos direitos humanos cometidas pela ditadura militar na capital paulista. Desde 2017, Fernanda tem se dedicado a desenvolver estratégias de comunicação para marcas, coordenando equipes e criando projetos em plataformas multimídia.
Sobre a oficina
Realizada em cinco encontros virtuais, a oficina “Como fazer jornalismo por meio de Web Stories?”, organizada pela Fundación Gabo em parceria com o Google News Initiative, reúne jornalistas de 41 veículos de comunicação do Brasil. Sob a orientação de Fernanda Nascimento, editora de conteúdo e estratégias digitais da revista Trip, esses profissionais estão explorando como aproveitar as possibilidades dos Web Stories no jornalismo