Pensar a respeito da conexão com o público alvo é essencial para o jornalismo e vai além de entregar um produto pronto e bem feito. É preciso dar atenção ao diálogo com quem consome, mas como fazer isso? 

Um ponto de destaque é definir quais são os objetivos da interação com as pessoas. O intuito é fortalecer vínculos com a audiência já existente? Ampliar o número de leitores, ouvintes ou telespectadores? Estimular uma conversa construtiva entre grupos polarizados? As questões são diversas e devem ser feitas pela equipe logo no início da preparação da pauta. As ferramentas escolhidas para desenvolver as ações vão depender dos objetivos identificados no planejamento e dos recursos disponíveis. 

Abaixo seguem algumas questões que podem guiar o planejamento para engajar o público por meio de uma pauta de jornalismo de soluções:

1. Como posso estabelecer uma conexão com a audiência desde o começo da cobertura jornalística?

Uma alternativa é logo no início da produção da pauta criar uma linha de diálogo por meio de recursos já utilizados pelo veículo, por exemplo, enviar em uma newsletter alguma pergunta sobre o que os assinantes gostariam de saber sobre determinado assunto ou se possuem histórias relacionadas com a pauta para compartilhar. A questão também pode ser disseminada pelas redes sociais em formato de texto, enquete, vídeo da equipe de reportagem comentando algo etc. Por exemplo, a equipe pensou em desenvolver uma pauta sobre iniciativas sustentáveis que estão dando certo na Amazônia, que tal perguntar se o público conhece ações em outros biomas ou se imagina que algo está sendo feito na região?

Em artigo publicado no dia 7 de outubro, mostramos que Marta Gleich, diretora de Jornalismo de Jornais e Rádio e coordenadora do projeto Jornalismo de Soluções no Grupo RBS, comentou que conversar com o público é uma boa alternativa de engajamento. “Antes de começar a pauta, pergunte para o público qual o real problema. Depois de publicar, interaja, pergunte como aquilo repercutiu, se aquilo está dando certo, o que mais tem para ver, leia os comentários que estão no digital”, disse.

Enfim, contribua para que o público se sinta parte daquela pauta e tenha curiosidade para saber como ela será ao ser publicada.

2. Como manter um diálogo ativo?

Manter um grupo de Facebook, enviar newsletters, mensagens por Whatsapp são boas alternativas, mas dependem do perfil do público. O Nexo Jornal tem um grupo para assinantes que funciona bem. Os leitores costumam enviar sugestões de pautas, críticas e elogios. Além disso, a fundadora compartilha novidades e os editores contam relatos de bastidores. A Rádio Ambulante, produtora de podcasts narrativos com foco em histórias da América Latina, também tem um grupo muito ativo no Facebook. Entretanto, há veículos de comunicação que fizeram grupos, mas os participantes não interagiam mesmo havendo postagens. Talvez apenas uma newsletter funcione melhor para alguns meios de comunicação. 

O Instagram também pode ser uma boa ferramenta para publicar stories sobre os bastidores da produção da pauta e instigar a curiosidade do público. Fazer lives abertas para conversar sobre o tema central da reportagem também é uma alternativa acessível, além da equipe que fez a reportagem, pode incluir especialistas que dominam o assunto destacado.

Enfim, o intuito aqui foi mostrar que é possível criar uma conexão com as pessoas com ferramentas já disponíveis e de fácil acesso. 

Sobre o projeto de jornalismo de soluções na América Latina

A Fundação Gabo e a Rede de Jornalismo de Soluções (SJN, sigla em inglês) trabalham em aliança em um projeto que busca formar e incentivar jornalistas da América Latina a aplicar o jornalismo de soluções, enfoque que busca investigar e narrar histórias que abordem respostas que dão ou poderiam dar a cidadãos e instituições a problemas sociais na região.

O projeto, apoiado pela Fundação Tinker, contempla a difusão e apropriação de ferramentas e guias, assim como a realização de atividades de formação como workshop, seminários virtuais e desenvolvimento de espaços de aprendizagem em redações de alguns veículos de comunicação da região interessados na modalidade.